sexta-feira, 23 de agosto de 2013

poeminha do homem pra mulher

Um homem de papel e de lata
cujo coração culmina na ponta de um punhal de prata
um homem que escreve bilhetes dilacerados e distribui pelos cantos empoeirados da vida
um brasileiro roto com muito gosto
um poema longo sem mais delonga
um Congo sem la conga
um rombo sem estrondo
um Rambo e um fandango

A estrela do riso e do choro

Era uma caixa. Isso era imutável. Não sabia, porém, por que tanto me perturbava aquele objeto. Não poderia precisar por que aquele cubo, aparentemente, sem cor definida jazia sobre minha mesa: intransponível, inseduzível. Decerto eu estava com a percepção alterada pelo álcool ingerido na hora anterior, porém aquela caixa, em suma, era real. Não havia, no entanto, qualquer indicação de remetente.

Meu hábito de não passar a tranca na porta deve ter facilitado a vida de meu visitante sem nome. Não podia ser Pietra, ela estava fingindo-se magoada demais para tramar qualquer tipo de trote. Caminhei até a pia da minúscula cozinha contígua e untei a têmpora com água fresca. Lavei as mãos, depois todo o rosto, até a nuca.

Quando regressei à mesa pude constatar que a caixa estava com a superfície levemente aquecida. E, sobre uma de suas faces, desenhavam-se com caligrafia impossível as seguintes palavras "estrela do riso e do choro". As letras pareciam estar num processo de contínua fluidez, vermelhas como sangue. De imediato entendi o que se passava, era a Loucura que me chegava, assim como foi com meu pai e com meu avô...