acredita no que digo
errante leitor(a)
pois não é senão a mais pura
mentira:
e mesmo a pretensa verdade
que o que te digo agora encerra
não se compõe senão de minha matricial mentira:
suicida mentira
ao tentar dis-simular a dissimulação
discursa o dis-curso.
o ímpio movimento de arrancar o véu
da grã-mentira que sou eu própria...
no gesto mesmo de te libertar radicalmente
da falsidade que meu corpo morto impõe
só se define ao te encerrar outra vez no engodo que a palavra é
sábado, 29 de setembro de 2018
domingo, 6 de maio de 2018
traz a voz
presa na garganta
a voz em nós
em nódulos imensos
homens pensos
pomos tensos
algo quer falar
logo se envergonha
se con-trai
o caldo quente
e torvo, como a tinta vermelha
que mina a cabeça de um corvo,
não cessa de escorrer-se
nós de dedos e mãos,
crispados, vãos
a modular o grito
em insanas melodias
presa na garganta
a voz em nós
em nódulos imensos
homens pensos
pomos tensos
algo quer falar
logo se envergonha
se con-trai
o caldo quente
e torvo, como a tinta vermelha
que mina a cabeça de um corvo,
não cessa de escorrer-se
nós de dedos e mãos,
crispados, vãos
a modular o grito
em insanas melodias
sábado, 31 de março de 2018
Ao escrever
me correspondo contigo mundo mais livre...
Já existe?
Digo simplesmente que hoje choveu a cântaros?
Molhar-me nessa água?
Sorver toda chuva?
(todo poema estar por acabar)
Escrever sequer existe? Sem lei
é bom e ruim flagrar-se estúpido
diante de versos
No convívio diário
abro mão de todo verbo
Insisto porém na maldade de escrever sem saber.
me correspondo contigo mundo mais livre...
Já existe?
Digo simplesmente que hoje choveu a cântaros?
Molhar-me nessa água?
Sorver toda chuva?
(todo poema estar por acabar)
Escrever sequer existe? Sem lei
é bom e ruim flagrar-se estúpido
diante de versos
No convívio diário
abro mão de todo verbo
Insisto porém na maldade de escrever sem saber.
PROCURANDO ANA C
Encontrando não
vou,
considero Ana C:
brevemente
olho, mastigo a carne da gengiva
Não!
Irrita toda a boça universal
sou um home-m-oderno, ou seja,
(Que direito tenho lá de te buscar
onde sei que não perdi?)
ridículo
Moderno num poço tapado
Ana C me estende a mão ou a luva de pelica?
andei lendo teorias, Ana!
me per-doa
já não sei de mais nada
Na escuridão doce,
adivinho um cartão postal,
meus antepassados
cortando em seringal Boa-fé?
onde está Ana C?
Rasura rasura!
Ana escrevendo bilhetes íntimos
Dormindo sentada no bidê
Mijando gosotosa a cama inteira
me vê:
“Oh meu cadelinho chique!”
vai, voa, trai
contradiz, contrai-se
Gargalha.
Gargalha gargalha.
─Do que se trata isso, Ana?
─Apenas uma brincadeira, MY DEAR
Responde com seriedade
Cruza as pernas, apanha as luvas
Raízes flutuando no ar, um beijo
vou,
considero Ana C:
brevemente
olho, mastigo a carne da gengiva
Não!
Irrita toda a boça universal
sou um home-m-oderno, ou seja,
(Que direito tenho lá de te buscar
onde sei que não perdi?)
ridículo
Moderno num poço tapado
Ana C me estende a mão ou a luva de pelica?
andei lendo teorias, Ana!
me per-doa
já não sei de mais nada
Na escuridão doce,
adivinho um cartão postal,
meus antepassados
cortando em seringal Boa-fé?
onde está Ana C?
Rasura rasura!
Ana escrevendo bilhetes íntimos
Dormindo sentada no bidê
Mijando gosotosa a cama inteira
me vê:
“Oh meu cadelinho chique!”
vai, voa, trai
contradiz, contrai-se
Gargalha.
Gargalha gargalha.
─Do que se trata isso, Ana?
─Apenas uma brincadeira, MY DEAR
Responde com seriedade
Cruza as pernas, apanha as luvas
Raízes flutuando no ar, um beijo
domingo, 25 de março de 2018
À PROCURA
Buscando a voz que me é propriamente humana
animal
pesquisando vestígio de sua presença
entre
cacos, fragmentos
do que já está perdido e
estranho
vagando por ruínas
naves remotas
pedaços de sons insilenciáveis — pranto convulsivo:
errei por compartimentos escuros do mais puro breu
antessalas ilusórias, subterrâneas... tateei...
(quando me estreitei de seu vulto
pensei que fosse finalmente me dizer quem
eu ia)
Encontrei-a lá onde jazem
todas as vontades enunciativas
livre e fria
não dizia por urgência de dever
ou por veleidades de poder
mas por um não-poder
por uma frouxa incontinência
pela alucinação sempre renovada
Pela falha certa
menos importava
o quê
do que
só dizer
dizer só
quem sou eu, ó voz, e quem soes voz?
quem somos nós? Tudo
nesse jogo estranho? Nada...
Voz de silêncios e pausas
e que solitude
Era uma voz sem impérios que é silêncio e que não cala
que não fala
não ilude
não salva
não serve
animal
pesquisando vestígio de sua presença
entre
cacos, fragmentos
do que já está perdido e
estranho
vagando por ruínas
naves remotas
pedaços de sons insilenciáveis — pranto convulsivo:
errei por compartimentos escuros do mais puro breu
antessalas ilusórias, subterrâneas... tateei...
(quando me estreitei de seu vulto
pensei que fosse finalmente me dizer quem
eu ia)
Encontrei-a lá onde jazem
todas as vontades enunciativas
livre e fria
não dizia por urgência de dever
ou por veleidades de poder
mas por um não-poder
por uma frouxa incontinência
pela alucinação sempre renovada
Pela falha certa
menos importava
o quê
do que
só dizer
dizer só
quem sou eu, ó voz, e quem soes voz?
quem somos nós? Tudo
nesse jogo estranho? Nada...
Voz de silêncios e pausas
e que solitude
Era uma voz sem impérios que é silêncio e que não cala
que não fala
não ilude
não salva
não serve
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