sábado, 24 de maio de 2014

Deixa

Deixa cair
Deixa sujeira acumular em tuas dobras
Deixa a ruga, a cicatriz
Marcar tua cara honesta
Deixa o rascunho
Deixa bater com força
Deixa soar

Deixa entalhar uma greta
Ao longo da tua envergadura
Deixa amolecer
Desfazer, dá corda
Deixa correr
Sentir sede, cansar
Deixa ter fome

Se morrer, morreu
Deixa de pena
De choro
O choro, a pena, tuas misérias
Tudo é de acabar
E acaba, no fim

Então deixa desgastar a palavra amor
Até exaurir a semântica bruta
E depois deixa
Deixa aos teóricos
Abandona o ofício ingrato
Ocupa-te apenas em libertar