sábado, 31 de março de 2018

Ao escrever
me correspondo contigo mundo mais livre...
Já existe?

Digo simplesmente que hoje choveu a cântaros?
Molhar-me nessa água?
Sorver toda chuva?

(todo poema estar por acabar)

Escrever sequer existe? Sem lei
é bom e ruim flagrar-se estúpido
diante de versos

No convívio diário
abro mão de todo verbo

Insisto porém na maldade de escrever sem saber.

PROCURANDO ANA C

Encontrando não
vou,
considero Ana C:
brevemente
olho, mastigo a carne da gengiva

Não!

Irrita toda a boça universal
sou um home-m-oderno, ou seja,
(Que direito tenho lá de te buscar
onde sei que não perdi?)
ridículo

Moderno num poço tapado

Ana C me estende a mão ou a luva de pelica?
andei lendo teorias, Ana!
me per-doa
já não sei de mais nada

Na escuridão doce,

adivinho um cartão postal,
meus antepassados
cortando em seringal Boa-fé?
onde está Ana C?

Rasura rasura!
Ana escrevendo bilhetes íntimos
Dormindo sentada no bidê
Mijando gosotosa a cama inteira
me vê:
“Oh meu cadelinho chique!”

vai, voa, trai
contradiz, contrai-se

Gargalha.
Gargalha gargalha.

─Do que se trata isso, Ana?
─Apenas uma brincadeira, MY DEAR
Responde com seriedade
Cruza as pernas, apanha as luvas

Raízes flutuando no ar, um beijo

domingo, 25 de março de 2018

À PROCURA

Buscando a voz que me é propriamente humana
animal
pesquisando vestígio de sua presença
entre
cacos, fragmentos
do que já está perdido e
estranho
vagando por ruínas
naves remotas


pedaços de sons insilenciáveis — pranto convulsivo:
errei por compartimentos escuros do mais puro breu
antessalas ilusórias, subterrâneas... tateei...

(quando me estreitei de seu vulto
pensei que fosse finalmente me dizer quem
eu ia)

Encontrei-a lá onde jazem
todas as vontades enunciativas

livre e fria
não dizia por urgência de dever
ou por veleidades de poder


mas por um não-poder
por uma frouxa incontinência
pela alucinação sempre renovada
Pela falha certa


menos importava
o quê
do que
só dizer

dizer só

quem sou eu, ó voz, e quem soes voz?
quem somos nós? Tudo
nesse jogo estranho? Nada...

Voz de silêncios e pausas
e que solitude

Era uma voz sem impérios que é silêncio e que não cala
que não fala
não ilude
não salva
não serve